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Macondo, Garcia Marques, Brazil
Não sei quem sou. Se soubesse, não estaria escrevendo. E você também não sabe quem é. Se soubesse, não estaria lendo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

BlogDay

Hoje é o BlogDay. Não sei quem declarou ou estipulou isso, mas está lá no Twitter, que virou referência mundial. O que está no Twitter rola no mundo, o que rola no mundo, está no no Twitter. Você talvez não se lembre, mas, antigamente, as pessoas se comunicavam com cartas. Tinha um negócio chamado selo, que se colava num outro negócio que se chamava envelope – ainda existe, mas usa-se pouco – e levava-se a uma agência de Correios. Que ainda existe, não sei exatamente pra quê, talvez apenas para encher as burras dos corruptos de dinheiro na cueca… Tudo era feito em papel, que aos poucos vem se tornando objeto de curiosidade. Mais tarde, muito mais tarde, veio o telefone, no início, muito caro, com o tempo, muito barato, mas que só faz raiva até hoje. As operadoras de telefonia, junto com os bancos e as agências de planos de saúde, mandam no país e ninguém faz nada. Depois, em uma evolução natural, veio o celular e o SMS, frases rápidas, oi, tô te esperando na esquina, me liga, te amo, não vivo sem você. A comunicação nunca mais seria a mesma com a popularização do email e suas correntes – argh! quem não indicar esse blog acordará amanhã com o penteado do Justin Bieber e os olhos de Luan Santana. Foi a partir daí que as cartas deixaram de existir. Hoje, só recebemos cobranças, faturas, cartões de crédito que não pedimos, você foi escolhido entre os formadores de opinião do país e ganhou 15 dias de assinatura da Folha. Nem cartões de Natal nós recebemos. Eles vêm naquelas ridículas apresentações de PowerPoint com uma musiquinha brega ao fundo. Mas era preciso mais, muito mais. Criaram os blogs, e todos os seus segredos eram os segredos de todos. Ontem eu briguei com minha mãe, meu pai me acertou na cara, estou apaixonada, entreguei-me ao meu melhor amigo, quero me matar mas estou sem tempo. As pessoas se confundem, pensam que quem escreve são elas mesmas. Quem escreve é um personagem de si próprio. Este que aqui é lido chama-se Dammy Urgo, com dois gês, mas que prefere um único para não ser considerado pedante demais. Mas quem digita é o outro, o J., cujo nome não interessa. Pois o J. só existe para si próprio, às vezes nem assipessoa m. Quem mais entendeu isso foi o português Fernando e suas pessoas: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares e outras dezenas. E foi Álvaro de Campos quem escreveu “Eu fingi que estudei engenharia./Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria”.

Eu, para lembrar-me que o J. existe, tenho que aparecer na frente do espelho e ver as marcas que o tempo já me deu, os cabelos brancos que a tinta não conseguiu esconder, o cansaço. Do contrário, não sei quem sou. Melhor ser Dammy Urgo, ainda que com um únigo gê, do que ser J. e achar que tem algo a dizer. Se sei quem sou, eu não me disse. Já fui a Macchu Picchu para me encontrar, mas quando cheguei lá eu já tinha ido embora e nem me dei tchau. Não. Mentira. Não fui a Machu Picchu. Apenas Dammy Urgo foi em seus pensamentos. O leitor e o autor é que habitam o mundo real, o narrador, o blogueiro, está entre eles, numa espécie de purgatório, entre o céu e o inferno. Muito, ou seria tudo?, do que lemos nesses blogs que por aí pululam, inclusive este meu, são apenas aspirações, desejos inconfessos que não são próprios. Um outro vive minha vida e me acompanha como sombra: às vezes está atrás, às vezes se adianta e fala besteira, noutras, está do meu lado. Às vezes quer ser sério, às vezes, engraçado, às vezes não quer falar nada. Quando quer dizer algo, a criatura tenta matar o criador e sair de seu mundo. Criar um avatar e acha que tem alguma verdade a dizer. Como não foi possível ter os 15 minutos de fama apregoados por Andy Warhol, que se tente os 15mb ou os 140 caracteres, nos quais eu não consigo dizer quase nada, e torturo os poucos leitores com estas linhas que eu não sei se deveriam ter sido escritas.

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