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Macondo, Garcia Marques, Brazil
Não sei quem sou. Se soubesse, não estaria escrevendo. E você também não sabe quem é. Se soubesse, não estaria lendo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FORÇA SEMPRE!

Salve Renato!!

27/03/1960 - 11/10/1996

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

LENDA URBANA

Houve um tempo em que choveu tanto que todos os caminhos se apagaram. Quem estava dentro não podia mais sair pois temia se perder; quem estava fora não podia mais chegar pois já se encontrava perdido. As nuvens que trouxeram a chuva eram tão escuras que podiam se dizer cegos. Não havia ruas, avenidas, esquinas, curvas. As casas ao longe eram apenas um brilho pálido, distante e intocável como estrelas. Mas iam se apagando aos poucos. Feito ratos, os que estavam fora pensavem que seriam capazes de chegar às suas casas apenas se seguissem pelos cantos. Mas não havia cantos. Em nenhum dos sentidos. Mal havia voz. Apenas lamentações, gemidos, sufocos. Tudo era uma tristeza profunda. Os que estavam dentro e olhavam pela janela enxergavam os outros em desespero, e estavam tão próximos que quase podiam tocá-los. Mas os outros não se aproximavam, e eles não ousavam sair.

o-gritoA escuridão nos dá a impressão de que tudo está longe demais de ser alcançado.

Eram animais com resquícios de domesticação: mesmo com portas e janelas mantidas abertas, ou não saíam ou não entravam. Era como se entre um mundo e outro houvesse um fino vidro que os impediam de se tocar. Duas castas, duas raças, dois grupos monstruosos, descabelados, desdentados, sujos e famintos. Aos poucos, ambos os grupos, os de fora e os de dentro, foram perdendo a lucidez, pois as nuvens que trouxeram a chuva não se afastaram em anos. Suicidaram-se, mataram-se, devoraram-se. Procriaram-se entre si e geraram cópias mal feitas de seus próprios defeitos. Mais que isso: decifraram-se. E a população de irracionais se reduziu a poucas dúzias que se escondiam das trevas dentro de suas próprias escuridões.

Quando as nuvens finalmente se foram e o sol brotou pálido e escasso após muitos anos, os poucos que sobreviveram não sabiam mais (se) enxergar. Estavam tão acostumados com as trevas que não viram diferença nenhuma. Nem notaram que os caminhos ainda estavam lá, que as casas e os edifícios permaneciam de pé, que as janelas e portas continuavam abertas, e que todas as ruas e avenidas ainda tinham suas placas antigas com nomes históricos dos quais não se lembravam mais dos feitos, ou datas marcantes, nas quais não sabiam mais o que comemorar. Permaneceram os mesmos animais que eram, assim como somos até hoje.

Apenas estamos inconscientes.

sábado, 25 de setembro de 2010

10 RAZÕES PARA VOCÊ VOTAR NO TIRIRICA

1. Pior do que está, não fica.
2. O número dele é fácil de decorar, a gente nem precisa gastar caneta ou lápis para rabiscar o  número num pedaço de papel higiênico usado.
3. Tiririca já declarou que não possui nenhum bem em seu nome. Assim, poderemos acompanhar o crescimento astronômico de seu patrimônio durante seu mandato.
4. Há quase meio século nós, eleitores, somos tratados como palhaços. Precisamos colocar um verdadeiro representante de nossa classe no poder.
5. Tiririca não sabe ler nem escrever, e o Presidente atual não dá valor aos estudos. Como o mundo não acabou em 8 anos, não vai acabar por causa de uma titi… digo, de um Tiririca.
6. Tiririca é o pai da “família” Restart, é só comparar as fotos abaixo. Vencendo a disputa para deputado federal, ele poderá comprar roupas de verdade para seus filhinhos e colocá-los de volta ao caminho do bem.
tiririca2 restart
7. Ele poderá servir como exemplo para gerações futuras. Se ele ganhar, Luan Santana, daqui a oito anos – hoje, ele tem treze – poderá concorrer a um cargo, qualquer cargo, e sumir da nossa vida.
8. Um dos projetos do Tiririca é mudar a música do Hino Nacional deixando-a mais fácil de ser cantada pelos jogadores de futebol. Ficaria mais ou menos assim:
Letra: Ouviram do Ipiranga   /  às margens plácidas / de um povo heróico o brado / retumban-te
Música: Florentina, Florentina / Florentina de Jesus / não sei se tu me amas / pra quê tu me seduz.
9. Ele não sabe o que um Deputado Federal faz, nós nã sabemos o que um Deputado Federal faz, um Deputado Federal não sabe o que faz. Todos juntos somos mais fortes.
10. Tiririca promete apresentar um projeto extinguindo os diferentes fusos horários vigentes no Brasil. Assim, haverá apenas o horário de Brasília: ou seja, só teremos de trabalhar das terças às quintas-feiras.
tiririca1

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

AS REGRAS DO JOGO ESTÃO EM JOGO

Não sou petista, peemedebista, tucano ou outra ave ranfastídea. Também não sou comunista nem socialista, embora seja democrata (na acepção grega da palavra, não na acepção DEMoníaca com a qual a mesma hoje se apresenta). Aliás, eu nem sei quem sou, mas sei que tenho direito de me manifestar, de reclamar, de não permanecer calado para que meu silêncio não seja usado contra minha defesa. Por isso, não posso deixar de registrar minha surpresa com a notícia de que o agrupamento petista (existem mesmo partidos no país?) tenha entrado nesta data, NESTÍSSIMA DATÍSSIMA, restando tão somente 9 dias para o pleito (que ultimamente tem tido mais o sentido de litígio…) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Superior Tribunal de Justiça contra a o artigo 91-A (quando uma lei começa a ter muitos artigos com sub-subs, como A, B ou C é sinal de que já foi remendada demais…) da Lei 9.504/97, vulgarmente chamada de Lei das Eleições (que lei é essa que muda todo ano?).


O citado artigo exige a apresentação do Título Eleitoral e de um documento oficial de identidade compalhaço foto antes de ser habilitado a votar. O ex assessor da Lady Kate fala isso todo dia na TV. Eu sempre fui contra este artigo, como a maioria, pois o eleitor SEMPRE pôde votar apenas com o título ou apenas com a identidade. Não se muda uma tradição criada em 1988 (memória mais longínqua que tenho) com uma ou duas canetadas. É preciso tempo, e um ano não é suficiente, para que possamos nos acostumar. Mas por quê, ó senhor!, por quê diabos, a apenas 9 dias do pleito, a agremiação partidária resolveu entrar com uma ADI  com pedido de liminar (decisão provisória) contra esse artigo? Por quê não ano passado? Por quê não no início do ano? No mês passado?

Ora, pensemos, pois, como bons ruminantes mentais que somos: entre a imensa massa de iletrados que não possuem um, ou outro, ou ambos os documentos, a que classe pertence a maioria?: Alternativa A – Classe A; Alternativa B – Classe B; Alternativa C – Classe C para baixo, incluindo as classes X, Y, Z e Ç? É óbvio que a última alternativa está certa! E dessa massa, dos candidatos que estão encabeçando as listas de favoritos (Tiririca não vale…) em quem vota a maioria? Não, não direi o nome, pois dar nome aos bois já seria dilmais (isso foi um trocadilho muito mal feito…). Assim, o consistório petista (vai lá, corra ao dicionário, eu espero…) quer, tão somente, garantir o alvedrio (cadê o dicionário? não deixou perto? perdeu!) da massa dos iletrados e famintos (não que apenas esses votem em citada confraria) e não correr o risto de disputar um 2o. turno com o outro candidato, que não consegue subir a serra (definitivamente, não sou bom em trocadilhos…).

Pesquisas recentes demonstram que a candidata petista estagnou em determinado patamar, enquanto que os indecisos estão indo para o lado oposto, diminuindo a diferença entre a primeira e os demais, arriscando um sucesso logo de início. Uma abstenção colossal como a que se prevê com a exigência dos dois documentos pode fazer muita, muita falta, para o conglomerado petista. Mas mudar as regras no final do jogo… pode?

(Lá vai César Cielo, pulou na água, são 100 metros, ele é rápido no nado de costas, vai César, vai César, todos juntos rumo ao tetra. Virou, virou César Cielo, e virou bem… Vejam a diferença para os outros nadadores! Espera, a diferença está diminuindo, será que o César está cansado? Mas ele ainda tem chances, o César Cielo vai ficar com a medalha de ouro? A diferença diminui, o segundo lugar está a uma braçada do primeiro… Peraí, peraí!! Pessoal, acabamos de receber um comunicado informando de que as condições da prova mudaram: agora, faltando 9 metros para o término da prova, será nado livre, e o Cielo é imbatível no nado livre. Vai César, vai Brasil, vai pra…).

Chega de parênteses…

sábado, 18 de setembro de 2010

SINESTESIA

Acordei de um sonho que não me lembro sequer de ter dormido, ciente apenas de que enquanto dormia aqui alguém encontrava-se desperto do outro lado. Ainda de olhos fechados e a alma aberta em susto, a boca me trazia um gosto estranho entre o azul e o som de trombetas, lembrando-me o cheiro das amêndoas amargas e do amor contrariado. Senti que este seria mais um dia qualquer cuspido no futuro. Deixei que a luz entrasse vagarosamente pelas estreitas aberturas de minhas pálpebras, e havia no quarto uma série de coisas que desconheço e que sempre me pertenceram como se estivesse envolvido por um museu de novidades. Meu corpo não queria se levantar mas a alma entendia a necessidade de ser sugada para fora. Sentado à beira da cama com esforço hercúleo, sentia-me firme em minha tontura. Ouvi um som como se alguém pintasse um quadro sem cores de natureza morta e, ao olhar pra cima, anacolutos desordenados voavam ao redor da lâmpada recém acesa, recém apagada, recém acesa, recém apagada. Morna. Minh’alma feito uma lâmpada que se apagou e permanece morna. Tenho que trocá-la, pensei de mim para mim mesmo – a alma, não a lâmpada – sabendo que a coragem jamais viria e antes que notasse uma logopéia rastejante entrando pela porta entreaberta, entrefechada, entreaberta, entrefechada. Talvez eu não tenha fechado a janela da sala, talvez eu não tenha fechado a porta da sala, talvez eu nunca tenha fechado nada, e essa vida aberta e desperta seja só o que me resta e me atormenta. Minha logorréia fez ssinestesia ons no estômago e senti fome, mas era preciso antes vestir uma roupa, escovar os dentes, pentear o cabelo e defecar os dejetos de ontem tradicionalmente às quinze para nove em ponto, o que me lembra um pedaço de pizza à espera de ser devorado ou decifrado. Fi-los. Não me lembro se comi pizza. Em minha cosmovisão distorcida, o rosto no espelho não era o meu, mas o de um outro que vivia minha vida, que sabia o que eu sonhava, pensava e sentia. Os espelhos e a cópula são abomináveis pois multiplicam o número de homens, já dizia um sábio cego antes que a visão lhe faltasse. Melhor que eu não trepasse aquele dia, melhor apenas que eu refletisse. (me). Fome. Vontade de comer chocolate. Mas não sei se a vontade era minha ou do outro que me encarava, que dançava pra mim de dedo em riste. Não há mais metafísica no mundo senão chocolates e as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Como eu não sabia se eu era o outro, a fome que eu sentia talvez fosse o outro empazinado, farto das coisas da vida. Ou da morte, já que a vontade dele era a minha. Ou seria o inverso. Lavar o rosto. Da torneira escapava uma luz forte e amarelada que fazia a pia transbordar de uma luminosidade que não ouso encarar. De repente, todo o banheiro é luz até os joelhos, e os azulejos infiltrados permitem escapar hexâmetros heróicos de onde antes fugiam apenas redondilhas menores. Tenho vontade de fugir para perto de tudo, minha maneira de estar sozinho. Ouço um epicédio do lado de fora. Alguém morreu. Que fiquem os chocolates para depois. Não os tenho em casa, como não tenho nada que seja doce, nada que seja palatável, nada que tire da boca esse cheiro das amêndoas amargas e do amor contrariado ou esse som agridoce dos olhos. Palavras repetidas. Quais são as palavras que nunca são ditas. Quem morreu? O próprio Alves? Saio do quarto meio que às pressas e uma lufada de epifania me atinge em cheio, enquanto a luz se espalha pelo assoalho da casa. Na parede do final do corredor um relógio que já marca nove em ponto, um calabouço de ar, um pedaço frágil de mim mesmo. Olho pela janela. Sim. Deixei-a aberta, estou salvo, não me afogarei na luz. Deixei-a aberta assim como a porta e todas as outras janelas e todas as outras portas. Deixei-as abertas assim como toda a casa, assim como toda a alma. O mundo é circular. Estou tonto. Parem! E é por tudo estar aberto, as janelas, as portas, as ânforas vazias cheias de água quente, os vasos de plantas, as caixas de sapato que dizem este lado para cima, as gavetas, os armários, por tudo estar aberto e mais um pouco, que  entram e saem sem pedir licença, sem fazer cerimônica, como se minha casa fosse a casa de todos, a casa dos tolos. Poucos ficam, e os que ficam dizem demais. Querem me dizer quem sou, como devo me sentir e como devo pensar. Se ficassem calados, emudecidos a um canto feito samambaia, se não gritassem, se não gemessem ou se ao menos nem tocassem a valsa vienense… Em minhas andanças pelo mundo nunca saí do meu país. Saudades de Itabira. Nunca estive lá. Do lado de fora, nenhum cortejo fúnebre, apenas um eufemismo de roupa verdejante me acena como se me conhecesse de eras extremas. Se não conheço sequer a mim, que liberdade tem essa figura esquálida para levantar-me a mão? Enlacemos a mão, Lídia, sentados à beira do rio. Depois pensemos, crianças adultas, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa. Sinto-me triste como um pôr-do-sol e tenho medo da noite, pois em meu céu interior nunca houve uma única estrela, e ontem ameaçaram chover. Mas ainda é cedo, muito cedo. Alguém vem me visitar hoje. Não me lembro quem seja. Que bom que esqueci. Não preciso fingir almoço ou jantar, não preciso fingir sente-se aqui que vestirei algo mais confortável. Preciso apenas ser eu. Lembro-me, de súbito, do espelho. Deixei minha imagem lá, meu reflexo sozinho, no quarto cuja lâmpada não sabe se morre de uma vez ou prefere sobreviver mais algumas horas. Quando não há ninguém olhando, o espelho reflete alguma coisa? Dou meia volta. A casa inundada de luz já fazia alguns móveis flutuarem. O espelho no mesmo lugar. Mas o espectro não estava mais ali. Talvez já houvesse fugido pelas janelas ou portas abertas e nunca mais retornasse, como aquela que se escondia por trás de um nome de escuridão. Mas resolvo esperar enquanto a casa se enche cada vez mais de luz e me sufoca quase. Estranho. As luzes não vazam pelas portas e janelas escancaradas, como se as trevas desenhadas pela luz do sol fossem um escudo que impedisse que um mundo se confundisse ao outro. A direção da luz é que desenha a sombra. Penso. Logo, desisto. Volto pra cama. A luz não é assim tão ruim, tem um gosto bom embora rançoso. Preciso dormir mais, deixar o equilíbrio ir embora. Talvez assim eu volte para o espelho, ou o espelho volte pra mim.

Até os 25 anos não me lembro de um dia sequer em que eu não a tenha amado, em que eu não tenha perdido o sono por um amor platônico. Mas um dia, passando de ônibus por um lugar qualquer, e sem que a esperasse, eu a vi e ela me viu pela janela ensanguentada de lembranças. Ambos sorrimos e nos acenamos. O aceno dela era de cumpimento-que-bom-te-ver. Meu aceno era de adeus. E nunca mais pensei nela. Às vezes é difícil até lembrar-me de seu nome…

……..

Antes que me acusem de plágio: neste texto que pode dizer mais sobre você do que sobre mim mesmo, há citações de Jorge Luis Borges, Fernando Pessoa, Júlio Cortázar, Gabriel Garcia Marques, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Cazuza, Renato Russo, Carlos Drummond de Andrade, Dammy Urgo e Paul Rabbit. Deve ter alguma coisa de Kierkegaard, Nietzche e outros clérigos já mortos. Deus está morto, disse Nietzche, mas foi Deus quem matou Nietzche.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O SAGRADO RASGADO

Um maluco americano – tem muita gente maluca por lá – promete que, no próximo 11 de setembro, irá queimar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, para marcar o nono aniversário dos ataques de 11 de setembro. Primeiro, acho que só se deveria marcar, ou comemorar, as datas boas: esqueça-se o 11 de setembro de 2001 – ataques às Torres Gêmeas; o 06 de agosto de 1945 – a bomba nuclear sobre a Hisoshima, ou o 26 de dezembro de 2004 – Tsunami na Indonésia, sem contar as datas de nascimento de alguns “grandes” líderes mundiais. Em segundo lugar, sou até capaz de entender a repercussão deste ato insensato pelo mundo, capaz de causar uma onda de violência sem precedentes, mas não compreendo a repercussão que tem tido no Brasil.
Aqui, rasga-se, todo dia, indiscriminadamente, a Constituição Federal e ninguém diz nada, ninguém se espanta, mal se arqueiam as sobrancelhas. E quem faz isso são os que estão lá em cima. Passa-se por cima de leis, derruba-se pilares constuídos através da história, mata-se a alma do cidadão, desrespeita-se os direitos mais básicos de todos : alimento, moradia, saúde, educação. Vida.

Sagrado é apenas aquilo ditado por um deus, por um profeta, por um escolhido? Um texto que, bem ou mal, teve a participação da população, não pode ser considerado sagrado? Tem menos valor?
A quebra de sigilo fiscal é o assunto da moda. Meu sonho era trabalhar na Receita Federal. Ano passado, estudei o ano inteiro para tanto. Cheguei perto, mas não deu. Agora, não sei se devo continuar sonhando com isso. Daqui a algum tempo, ser chamado de Servidor da Receita Federal pode tornar-se um insulto e de insultos eu já estou farto. Tem tanta gente com o sigilo sendo quebrado – e o Serra tem tantos parentes… – que, daqui a poucas semanas, os repórteres anunciarão, com suas vozes taciturnas, profundas, abismáticas: Fulano continua com seu sigilo fiscal preservado. Ele é o último.3
Então, erguerão-se igrejas, cultos, filosofias em honra de um único intocado. Talvez este pobre coitado não tenha mesmo nenhum sigilo a ser quebrado por ganhar salário de fome, ou talvez seu nome tenha sido esquecido embaixo de algum dossiê mais importante, ao fundo de uma gaveta bolorenta. Nesses últimos tempo, ser desconhecido é o que há de melhor.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DIA DO SEXO

- Mó, acho que nosso casamento está acabando.
- Onde?
- Como assim, onde?
- Onde está meu chinelo?
- Você não está nem prestando atenção no que estou falando.
- Não consigo pensar com os pés descalços… Pronto! Achei. O que foi que você me perguntou?
- Não perguntei, eu declarei: acho que nosso casamento está acabando.
- Onde?
- Você já não achou seu chinelo?
- Já. Mas nosso casamento está acabando onde? No amor? Na amizade? No dinheiro? Na saúde? Na doença? Na chuva?
- No sexo. Você não falou “no sexo”.
- Me esqueci.
- É exatamente isso o que estou dizendo. Nosso casamento está se acabando. Não tem mais paixão, fogo, sexo. Você não me procura mais como mulher.
- Claro que te procuro como mulher… Quando os pratos estão sujos e não tem nenhum em que eu possa comer, eu não te procuro para lavar?
- Você não pode estar falando sério… Olha… Você se lembra há quanto tempo não vamos ao motel?
- Isso ainda existe??
- Foi antes de nos casarmos.
- O que é lógico. Você não queria que nós transássemos no quarto dos seus pais ou no chiqueiro dos porcos do seu avô, muito menos na rua, como se fôssemos cachorros. Para isso, existia – ou existe – o motel, o que eu não entendo, pois hoje as pessoas transam em qualquer lugar. Feito cachorros.
- Mas é no motel que realizamos nossas fantasias, que podemos gritar, pular…
- Olha barata!!!!
- Ah!!!
- Viu só? Você gritou e pulou. Não precisa de motel pra isso.
- Quer dizer que você me sugere ir a um motel com uma barata.
- Cada um com a sua tara. Mas diga, o que você quer de mim.
- Quero aproveitar esta data importante e ir ao motel contigo. Fazer amor como há muito tempo não fazemos, fazer nosso paixão renascer, acender nossa chama. Nós podemos deixar as crianças na vizinha, dormir no motel e voltar apenas de manhã.
- Dia importante?? Hoje é dia da secretária??
- Não. Hoje é dia do sexo. DO SEXO!! Não sabia? O mundo todo está falando sobre isso, no twitter, no Orkut, no Youtube.
- O mundo não é mais o mesmo. O mundo está no computador. Parece aquela crônica do Dammy Urgo sobre a TV chamada O Teatro dos Vampiros… Mas… na verdade, o que se fala o tempo inteiro é em dossiê… Pensando bem, dá na mesma, fazer dossiê é coisa de gente que quer fuder com os outros.
- Você topa?
- Fazer um dossiê?
- Ir ao motel, idiota.
- Existe um motel chamado idiota?
- Não!!! Tem uma vírgula aí…
- Já falei pra você fazer um curso de comunicação. Você engole palavras, come sílabas, não dá pausas. Não dá para entender nada. Talvez nosso casamento esteja acabando aí.
- Você topa ou não topa.
- Tudo bem. Eu aceito. Vamos aonde?
- Tem um motel que minha amiga foi mês passado na BR chamado Borboleta Butterfly.
- Borboleta Butterfly?
- É. Parece ser muito chique.
- E brega. É como se um pai batizasse sua filha de Maria Mary. Mas tudo bem. Se você quer, nós vamos. Na verdade, já estou pronto.
- Mas você está de bermuda!
- E tem roupa própria para se entrar no motel? Lá não ficam todos pelados mesmo? Tudo bem, vou trocar de roupa. Não demora.
- Vou te esperar ansiosa.

- Nossa! que lugar lindo! Olha essa cama redonda, esses quadros, esse móveis. Olha só, tem até um frigobar. Deixa ver o que tem… Whisky, champanhe, só coisa chique.
- Não tem cerveja não vale nada. Pelo preço, deveria ter uma barra de ouro na geladeira, mesmo sendo só por uma hora.
- Você só pagou uma hora e está reclamando! Deveríamos ficar a noite toda. Uma hora não dá pra nada, então, deixa de reclamar e vamos curtir ou estaremos perdendo tempo e gastando seu dinheiro. Deixa eu ver o banheiro… Noooosssaaaa! Vem ver essa hidromassagem! Cabem dois casais aqui…
- Ficaria mais interessante…
- Tem até espuma. Caraca! Nunca fui num lugar tão chique assim. Deixa eu testar esta cama com um pulo… Putz! Parece uma cama elástica de tão macia. Olha só o candelabro, as taças sobre a mesa… Que estilo é esse, mô? Barroco? Rococó?
- A julgar pelo nome Borboleta Butterfly, deve ser os dois: Barrococó.
-Olha só. Quando eu aperto este botão aqui, a cama vibra.
- Evita trabalho.
- Se eu aperto aqui, tem música suave.
- Prefiro Luan Santana.
- Esse botão aqui liga a TV. Ops. Canal pornô. Fica para mais depois. E se eu aperto aqui, o teto se abre… Olha só que noite linda, quantas estrelas, que arquipélago é aquele, meu bem?
- Não é arquipélago… é constelação. Não sei como se chama. Sempre fui péssimo em química.
- Mas é linda, de qualquer jeito. Estrelas ou ou ilhas, estão observando o nosso amor.
- Que amor? Já estou na cama, pelado, te esperando, e você aí, encantada com tudo. O tempo está passando.
- Espera mais um pouco, deixa eu aprecisr este céu, estas estrelas, esta noite linda. Sente, meu bem, nosso amor renascendo, nossa paixão aflorando, nosso fogo se esquentando. Era disso que sempre precisamos. Dá vontade de ficar aqui, só olhando o céu… Vou pegar uma coisa pra gente beber. Pronto. Que delícia de bebida, boa mesmo.
- Me dá um gole… Bom mesmo. Me dá outro. É. Muito bom. Pega mais pra nós.
- Lindo aqui, não é, mô. A gente poderia vir aqui uma vez por mês… Iria fazer um bem danado.
- Me dá mais um pouco.
- A gente descansa das crianças, do mundo…
- …Do twitter, do Youtube, da TV, do celular. Alguém ainda vive sem isso? Me dá mais um gole. Bom mesmo. Você já bebeu meia garrafa.
- Felicidade, meu amor. Felicidade. Vou pegar mais um pouco. Se estiver com frio, posso fechar o teto.
- Não. Assim tá bom. Mas liga a TV. Põe no jornal.
- Vou deitar do seu lado. Posso?
- Já deveria ter deitado. Mas me dá mais um gole, vai. Bom mesmo.
- Eu estava pensando… A gente poderia pelo menos colocar um espelho no teto do nosso quarto. Nossa vizinha tem um, ENORME!!! Imagina se aquilo cai na cabeça dela bem na hora do vamo-vê? Iria ser uma tragédia. Agora esses móveis… Devem ser caros pra caramba, mas a gente poderia comprar aos poucos: primeiro, uma mesinha, depois, esse carrinho de bebidas, depois, uns copos, as taças, as bandejas. Parecem de prata. Tem certeza de que é barrococó? Não seria um pós-moderno-vanguardista-arcaico? Os quadros também são uma beleza. Esses corpos semi-nus, essas paisagens lindas, tranquilas… Parece que estamos lá, no meio da paisagem, dos pássaros, das árvores. Parece que podemos sentir a brisa. Acho que é por causa do teto que está aberto. Acho melhor fechar. Espera um pouco… Bom. Melhorou. Vou apagar as luzes para ficarmos vendo TV no escurinho, igual quando estamos em casa. Amor, amor… Amor, você dormiu? Acorda! Acorda peste!!! Você só pagou por uma hora! Acorda, desgraçado!!!

DIA DO SEXO

Putz! Acabei de descobrir que ontem foi o dia do sexo 6/9. Se minha mulher souber, tô ferrado.

sábado, 4 de setembro de 2010

A 700 METROS DE PROFUNDIDADE, MINEIROS TAMBÉM PENSAM NAQUILO!

Em vídeo, operários pedem bonecas infláveis; equipe de resgate diz não

Manuela Franceschini, de Copiapó, no Chile
No acampamento da mina San José não se fala em outra coisa. No segundo vídeo que mandaram às suas famílias e ao mundo, nesta terça-feira, os 33 mineiros soterrados no deserto do Atacama fazem um pedido. “Senhor ministro (da Saúde, Jayme Mañalich), estamos muito felizes. Temos música e estamos dançando!”, diz um deles. Ao fundo, alguém interrompe: “Falta a boneca inflável!”, e é apoiado por todos com gritos e risadas.
Nas cartas enviadas aos parentes, os operários pedem sempre pôsteres e fotos de mulher pelada. “Tem que ter um entretenimento, coitados! Que mandem uma (boneca) para cada um ou vão enlouquecer. Eu mesma mandei na última carta uma foto de uma modelo pelada junto", conta Yéssima, mulher de Dario Segovia. "Disse que a foto era minha", acrescenta, caindo na risada. O mineiro, a propósito, já respondeu, agradecendo o presente.
Já a prima de Dario, Alda Rojo, acha que mandar bonecas é ir longe demais: “São uns mimados! Eles têm suas senhoras aqui em cima esperando. Querem boneca pra quê? De jeito nenhum!”. O filho do mineiro, Cristian, concorda com a tia: “Eles têm que trabalhar lá embaixo. Se mandarem a boneca, não vão fazer outra coisa.”
A mulher de Victor Zamora, Yéssica, lava as mãos: “Essa decisão é dele. Com tanto que não seja de carne e osso, mandem quantas mulheres quiserem”. A sogra, Nelly, a interrompe: “se os médicos aprovarem, que mandem o que pedirem!”
No entanto, segundo a assessoria de imprensa do ministério de Saúde do Chile, não serão enviadas bonecas infláveis. “O bem estar dos 33 será assegurado com alimentação correta, vitaminas, exercícios físicos e cuidados médicos”, disse a VEJA.com Alejandro Nuller. (Fonte: Veja.com)

Comentário de Dammy Urgo: vou pedir transferência pra lá.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O QUE VOCÊ FARIA SE GANHASSE 85 MILHÕES DA MEGA-SENA??

- Compraria um HD maior. (Gérson da novela das oito que começa às nove);
- Partiria tudo com o Macarrão. (Bruno, ex-integrante da facção do Flamendo);
- Dava pro Bruno. (Macarrão, amante do ex-integrante da facção do Flamengo);
- Uê? Mas o Senna não morreu? (Luciana Gimenez, apresentadora de TV);
- Isso dá mais ou menos quanto? (Luciana Gimenez, apresentadora de TV, ao ser informada dos detalhes do assunto);
- Se a Ferrari mandar, entrego tudo para o Fernando Alonso. (Felipe Massa, segundo piloto da Ferrari);
- A quina tá pagando quanto? (Rubinho, segundo de qualquer coisa);
- A Mega-Sena não está acumulada, isso é um golpe baixo, estão querendo ganhar no tapetão! Tudo não passa de uma armação do PT e do pessoal da Dilma para conseguir mais votos junto ao eleitorado. Nós estamos entrando com uma reclamação junto ao TSE ainda hoje pedindo a cassação de sua candidatura! (José Serra, candidato a presidente pelo PSDB);
- Uma parte iria para o Renan Calheiros, outra parte para o Sarney, uma outra para o Collor e outra para o Jáder Barbalho. O que sobrasse, eu pagava para fazer um dossiê sobre o Dammy Urgo. (Dilma, candidata a presidente pelo PT).
- Isso é mais uma conquista do governo do Lula e da Dilma (propaganda eleitoral do PT);
- A gente conseguiu fazermos a Mega-Sena acumularem porque muita gente, como nunca na história desse país, que não jogava tá jogano agora com o dinheiro ganho com o bolsa-família. Como essa gente não sabe jogá, marca tudo os mermo número de zero a çeis e ninguém ganham nada. (Lula, o nosso molusco que não sabe nada e único ser humano que consegue falar seis com cedilha);
- Eu fui alfabetizada com 16 anos. (Marina Silva, candidata pelo PV);
- Esse dinheiro é obra da burguesia, fruto do latifúndio improdutivo administrado pelas oligarquias de elite. Precisamos reestatizar a Vale, a Petrobrás e a Usiminas; fazer reforma agrária na lua e aumentar o salário mínimo para 2.500 reais por mês, diminuir a jornada de trabalho para 24 horas mensais sem redução do salário, legalizar o aborto e ressuscitar Engels, Marx, Lênin, Trótski e Eliza Samúdio, pois ela também foi uma vítima da burguesia. Também somos contra a Usina de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco, e o monocultivismo de eucalipto em áreas em que não se planta eucalipto. (Qualquer candidato de esquerda).
- Eu não fazeria nada! Posquê os número da Mega-Sena só vai até 60 e meu número é 2222. Pior do que tá, num fica. Vote no Tiririca. (precisa dizer?);
- Não sabe o que fazer com 85 milhões? Vota ni mim que eu te conto! (precisa mesmo dizer?);
- Eu faria muita pipoca para os baixinhos! (Xuxa, que depois de fazer pipoca deve aproveitar o sabugo pra alguma coisa).
- Dinheiro não traz felicidade. (Paulo Coelho, escritor de auto-ajuda rico, muito rico, e feliz da vida);
- Dinheiro é só alegria! (Paul Rabbit, twitteiro de auto-engano, pobre, muito pobre, e devendo a fatura do cartão do ano passado).
- Faria um transplante de cérebro, né? Tem tanta gente precisando! (Sabrina Satto, apresentadora de TV);
- Pagava para o Sílvio Santos me levar de volta (Gugu, que de vez em quando ainda aparece na TV).
- Tomaria vergonha na cara e pararia de escrever esta porcaria. (Dammy Urgo, revoltado com a vida)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O TEATRO DOS VAMPIROS

Lembro-me que, dois anos atrás, também em época eleitoral, o TSE divulgava em rede nacional uma série de comerciais sobre a importância de se escolher um bom político – pelo visto não adiantou nada... Em uma dessas peças, determinado eleitor tinha uma abelha presa no ouvido e precisava alimentá-la com mel para que o zunido parasse. Como a divulgação era em todas as emissoras de TV e em todos os horários, o alcance foi maiúsculo. Acontece que, algum tempo depois, uma mãe entrou em contato com o TSE reclamando da má influência da propaganda, pois sua criança, ao ver o eleitor alimentando a abelha introduzindo mel em seu canal auricular – não sei se os termos foram exatamente assim – tentara fazer o mesmo… A peça publicitária foi retirada do ar.

Recentemente, uma turma de roupa colorida começou a aparecer na TV e não deu outra. Em todo canto veem-se jovens com calças e blusas de um tom reluzente, amarelo, azul, verde, tipo mamãe-tô-na-área, sem contar o cabelo tipo chapinha dos emos. Minha jovem vizinha ADOGA!!Não. Emo não é gay, ainda que o inverso de emo seja ome. Agora, começam a aparecer umas camisetas com gola em formato de V iguais às camisetas de um tal de Fuckyou que tem até um quadro no Fantástico – enquanto eu, servidor público federal e blogueiro nas horas vagas, o máximo que consigo é aparecer no jornal local em tom sério identificado com meu ortônimo. Ou é ele quem está aqui como seu heterônimo? Não sei mais quem sou eu
Semanas atrás, um vídeo mostrando uma senhora inglesa jogando uma gata dentro de uma lata de lixo ganhou o mundo e paródias. Esta semana, um vídeo de uma jovem da Croácia jogando vários cachorrinhos num rio, provavelmente gelado, causou comoção. Até mesmo eu, este poço de sentimentos da profundidade de um pires raso, fiquei chocado. A Inglaterra é logo aqui do lado, perto da Croácia, indo pra Ipatinga. O mundo parece ser menor que o Projac da Globo, onde se vai pra Toscana, Índia ou Marrocos em menos de um capítulo. Parodiando Drummond em O Mundo É Grande, digo: o mundo é grande e cabe nesta janela dentro da sala de estar.

Ontem, um vídeo gravado por celular mostra uma menina de aproximadamente 3 anos sendo incentivada por um grupo de adultos, entre eles, a tia, a fumar um baseado, em João Pessoa, Pernambuco. Era maconha mesmo, não era alface nem orégano… Provavelmente, foram influenciados por um outro vídeo mais antigo – mas nem tanto… – de um menino de 2 anos da Indonésia que fumava até 2 maços de cigarro por dia. Pronto. A imagem do bebê que curte uma rockonha corre o mundo: está na internet, está na sua sala, está na sala de seu vizinho.

Daqui a pouco, a mania se espalha e os pequenuchos vão aparecer por aí cheirando leite Ninho.

Isso é a moda. Isso é TV. Esse é o nosso mundo. Vou ligar o rádio.

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Se você quer saber o porquê do título, clique aqui. Dammy Urgo também é cultura.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

BlogDay

Hoje é o BlogDay. Não sei quem declarou ou estipulou isso, mas está lá no Twitter, que virou referência mundial. O que está no Twitter rola no mundo, o que rola no mundo, está no no Twitter. Você talvez não se lembre, mas, antigamente, as pessoas se comunicavam com cartas. Tinha um negócio chamado selo, que se colava num outro negócio que se chamava envelope – ainda existe, mas usa-se pouco – e levava-se a uma agência de Correios. Que ainda existe, não sei exatamente pra quê, talvez apenas para encher as burras dos corruptos de dinheiro na cueca… Tudo era feito em papel, que aos poucos vem se tornando objeto de curiosidade. Mais tarde, muito mais tarde, veio o telefone, no início, muito caro, com o tempo, muito barato, mas que só faz raiva até hoje. As operadoras de telefonia, junto com os bancos e as agências de planos de saúde, mandam no país e ninguém faz nada. Depois, em uma evolução natural, veio o celular e o SMS, frases rápidas, oi, tô te esperando na esquina, me liga, te amo, não vivo sem você. A comunicação nunca mais seria a mesma com a popularização do email e suas correntes – argh! quem não indicar esse blog acordará amanhã com o penteado do Justin Bieber e os olhos de Luan Santana. Foi a partir daí que as cartas deixaram de existir. Hoje, só recebemos cobranças, faturas, cartões de crédito que não pedimos, você foi escolhido entre os formadores de opinião do país e ganhou 15 dias de assinatura da Folha. Nem cartões de Natal nós recebemos. Eles vêm naquelas ridículas apresentações de PowerPoint com uma musiquinha brega ao fundo. Mas era preciso mais, muito mais. Criaram os blogs, e todos os seus segredos eram os segredos de todos. Ontem eu briguei com minha mãe, meu pai me acertou na cara, estou apaixonada, entreguei-me ao meu melhor amigo, quero me matar mas estou sem tempo. As pessoas se confundem, pensam que quem escreve são elas mesmas. Quem escreve é um personagem de si próprio. Este que aqui é lido chama-se Dammy Urgo, com dois gês, mas que prefere um único para não ser considerado pedante demais. Mas quem digita é o outro, o J., cujo nome não interessa. Pois o J. só existe para si próprio, às vezes nem assipessoa m. Quem mais entendeu isso foi o português Fernando e suas pessoas: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares e outras dezenas. E foi Álvaro de Campos quem escreveu “Eu fingi que estudei engenharia./Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria”.

Eu, para lembrar-me que o J. existe, tenho que aparecer na frente do espelho e ver as marcas que o tempo já me deu, os cabelos brancos que a tinta não conseguiu esconder, o cansaço. Do contrário, não sei quem sou. Melhor ser Dammy Urgo, ainda que com um únigo gê, do que ser J. e achar que tem algo a dizer. Se sei quem sou, eu não me disse. Já fui a Macchu Picchu para me encontrar, mas quando cheguei lá eu já tinha ido embora e nem me dei tchau. Não. Mentira. Não fui a Machu Picchu. Apenas Dammy Urgo foi em seus pensamentos. O leitor e o autor é que habitam o mundo real, o narrador, o blogueiro, está entre eles, numa espécie de purgatório, entre o céu e o inferno. Muito, ou seria tudo?, do que lemos nesses blogs que por aí pululam, inclusive este meu, são apenas aspirações, desejos inconfessos que não são próprios. Um outro vive minha vida e me acompanha como sombra: às vezes está atrás, às vezes se adianta e fala besteira, noutras, está do meu lado. Às vezes quer ser sério, às vezes, engraçado, às vezes não quer falar nada. Quando quer dizer algo, a criatura tenta matar o criador e sair de seu mundo. Criar um avatar e acha que tem alguma verdade a dizer. Como não foi possível ter os 15 minutos de fama apregoados por Andy Warhol, que se tente os 15mb ou os 140 caracteres, nos quais eu não consigo dizer quase nada, e torturo os poucos leitores com estas linhas que eu não sei se deveriam ter sido escritas.

sábado, 28 de agosto de 2010

REVELAÇÃO

Afinal, quem é Dammy Urgo?
Primeiramente, é Dammy Urggo, com dois "gês", mas eu escrevo com apenas um para não parecer muito pedante.
Eu nasci em uma família humilde, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa, e também já passei por muitas dificuldades, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa. Mineiro, uai, sempre lutei muito, até chegar onde cheguei – o que não é muito longe, principalmente considerando que minha mulher não me deixa sair sozinho – diferente da Dilma, do Lula, do Serra, do FHC, da Marina, da Marta, do Aécio, do Hélio, do Patrus, do Tiririca, e da Heloísa, que já deram ou darão uma passadinha em Brasília. Alguns ficarão por lá e jamais retornarão, feito plantas parasitas. Assim como os grandes nomes da história nacional, como Drumond que se tornou poeta, Villa-Lobos, que foi compositor, Rubem Fonseca, que é escritor, sou servidor público e me tornei... bem, me tornei blogueiro, por que os tempos mudaram, assim como mudaram a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa. Por isso, sou mais antenado com a modernidade: sou a favor do casamento gay, do batismo gay, da separação gay, do Bar Mitzváh gay, da crisma gay, do velório gay, da cremação gay, do nascimento gay, da circuncisão gay (isso é gay mesmo!!), do Robocop gay, do Batman gay, do Robin gay, do abacate bay, da banana gay, da maçã gay e da jaca gay, mas sou contra os emos, pois até viadagem tem que ter limite. Também sou ecologista: defendo o verde, desde que não seja AQUELE verde que minha vizinha usa, mas também gosto do amarelo, do marrom, da fúcsia, do magenta, do bonina e todas aquelas cores da Caixa de 48 Lápis da Faber Castell que minha mãe nunca me deu e me faz chorar até hoje. Ela só comprava lápis Labra…
Nunca usei drogas, mas tomo Tylenol de vez em quando; nunca matei ninguém, mas tenho vontade de agarrar o pescoço de alguns; não acredito em Deus mas acho que ele existe; não tenho religião, mas estou fundando uma igreja. Fiz até o primeiro semestre de Arquivologia, o que me torna um exímio arquivador de pastas e arquivos com palavras iniciadas com “Ç”. Não sou candidato, mas sei que algum dia poderei fazer alguma coisa pelo país, nem que seja jogá-lo de vez na privada, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa fazem ou estão querendo fazer, todos com o seu (nosso!) apoio. No momento, além de blogueiro sem sucesso e servidor público sem recesso, dedico-me a escrever o discurso de posse do Tiririca, pois tenho certeza de que ele vai ganhar e, ao mesmo tempo, aproveito para ajudá-lo em alguns projetos, como aumentar o número de caracteres no Twitter de 140 para 171 e obrigar a novela Passione a revelar o segredo do Gerson antes do último csuicidio-20ursinho-smallapítulo. Sou casado e tenho duas filhas que, coincidentemente, são também filhas de minha esposa, o que não é muito comum hoje em dia. Infelizmente, elas sabem minha identidade, o que tem causado reações estranhas no seio de minha família, e também nos braços, nas pernas, nas coxas, na Dilma, no Lula, no Serra, no FHC, na Marina, na Marta, no Aécio, no Hélio, no Patrus, no Tiririca, e na Heloísa.
Bem, agora que você satisfez sua curiosidade e já sabe quem sou eu, tornando-se, assim, parte de minha existência e uma pessoa muito mais feliz e completa, capaz de enxergar que depois do túnel tem sempre o fim da luz, vá procurar alguma coisa a que se dedicar, ou seja, não seja uma Dilma, um Lula, um Serra, um FHC, uma Marina, uma Marta, um Aécio, um Hélio, um Patrus, um Tiririca ou uma Heloísa e tente fazer, de verdade, alguma coisa pelo seu país: mate-se!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PRIMEIRA PROMOÇÃO DO BLOG!!!

Devido ao grande sucesso do posto sobre o Gerson, quem seguir @Dammyurgo e este blog, quando alcançarmos 123.456 seguidores, vamos sortear 01(um) Pacote de Papel Higiênico Personal com 8 unidades entre aqueles que adivinharem o segredo do Gerson no final da novela!!! Participem, pessoal!!

O QUE É QUE O GERSON GUARDA EM SEU COMPUTADOR?

O grande mistério que se inicia hoje: o que o Gerson, da novela das oito que começa às nove guarda em seu computador que tanto incomodou sua esposa, a Diana?? Meus palpites – aceito outros:
1 – Fotos da Dilma Russef pelada;
2 – Coleção com os MP3 do Luan Santana;
3 – Filme pornô da Eliza Samúdio que ele comprou no camelô da esquina;
4 – Foto do que a Perpétua guardava dentro da caixa que ficava em cima do guarda-roupa;
5 – Fotos do novo penteado da Ana Maria Braga;
6 – O vídeo da campanha eleitoral do Tiririca;
7 – O dicionário Português-Italiano que o Sílvio de Abreu usa para escrever a novela;
8 – Uma imitação que ele fez do Justin Bieber;
9 – Fotos antigas do Boneco do Fofão;
10 – Este site salvo em sua barra de favoritos;
11 – A fita de O Chamado convertida em Divx – a Diana vai morrer!!
12 - Todos os jogos do Atlético-MG gravados.
13 - Fotos da Geyse Arruda nua.
14 - Fotos da Geyse Arruda de qualquer jeito.
15 - Uma enciclopédia escrita pela Luciana Gimenez.
16 - Diana descobriu que ele participará da campanha da mulher Pêra.
17 - Diana descobriu que o nome verdadeiro dele é Marcelo Anthony.
18 - Diana descobriu o valor de seu pagamento.
19 - Um vídeo dele dançando a Dança do Passarinho ao lado do Gugu.
20 - O Windows dele é pirata.
21 - O papel de parede do PC dele é uma foto do Fiuk.
22 - Uma lista de compras em que ela viu uma porção de calças coloridas.
23 - Ele assina a revista Caras só para ganhar os talheres da condessa.
24 - Diana descobriu que ele não aceitou o convite dela para o Facebook.
25 - Ele tira fotos do próprio cocô na privada.
26 - Um dossiê que comprova quem matou Odete Roittman.
27 - O novo projeto da fábrica: um rebobinador de DVD.
28 - A Diana descobriu que ele é viciado em Tylenol.
29 - Fotos do Bruno comendo Macarrão.
30 - Que ele é fã da Carolina Dieckman.
31 - Fotos da nova coleção Primavera-Verão da Geyse Arruda.
32 - A Diana descobriu que o Gerson tem um segredo.
33 - Ele tem uma fazenda de Playmobil.
34 - Ele coleciona Barbies.
35 - Ele tem toda a coleção dos episódios do Barney e Seus Amigos.
36 - Ele gosta de frango com quiabo.
37 - Ele fez um gato na luz.
38 - Ele tem gato de TV a Cabo.
39 - Ele não sabe pronunciar o nome daquele vulcao que eu não sei pronunciar.
40 - Que seu nick no Twitter é Paula Tejano.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

MEU ENCONTRO COM O CANHOTO

Um dia o Capeta me ligou. Bem, logicamente, deixemos claro que eu não tenho o Tinhoso em minha lista de contatos, mas quando o celular tocou e o número que apareceu era 6666-6666 eu já fiquei desconfiado. Uma voz fina do outro lado chamou por meu nome em mil idiomas – já deu pra notar, então, que a ligação foi longa. Ao final de toda a demonstração de seu conhecimento linguistico – por que o Chifrudo insiste em se mostrar tão poderoso? – o Bizonho perguntou:
- Quer fazer um pacto comigo?
Mas eu não respondi de imediato, não sou trouxa. Não é qualquer Maldito que vai me convencer a vender a alma de grátis, se é que essa construção gramatical faz sentido. Eu disse que, para que eu acreditasse que ele era mesmo o Belzebu, ele deveria me dar uma prova.
- Que tipo de prova? – ele me perguntou em outros mil idiomas. Ainda bem que o Cramulhão não me ligou a cobrar.
- Dipigapa upumapa copoipisapa sopobrepe mipim quepe sópó epeu sapabeperipiapa? – perguntei na Língua do Pê, uma espécie de dialeto local aqui de Minas Gerais. Assim, eu testava os conhecimentos do Cão pra saber se ele não estava me engalobando com todas aquelas consoantes acentuadas. E não é que ele entendeu?
- Você tinha medo do boneco do Fofão quando era menino – respondeu o Beiçudo, você já sabe em quantos idiomas. Minha espinha gelou. Mas eu ainda não estava convencido, e repliquei:
- Mas e se você for Deus? Deus também saberia tudo sobre mim… – o Mofento respondeu de bate-pronto:
- Deus é brasileiro. Se eu fosse Deus só estaria conversando contigo em português… Aliás, considerando que até hoje vocês estão pagando pelos pecados de Adão e Eva, ele teria ligado a cobrar.
Só nesta meia dúzia de frases já haviam se passado trinta minutos. A operadora do Rabudo devia ganhar uma nota preta com essas “negociações” por telefone. Pelo menos o Capiroto não falava apenas no gerúndio… Tá bom. Eu havia me convencido. Eu estava mesmo falando com o Não-Sei-Que-Diga. Como não tinha nada pra ver na TV e o Horário Eleitoral ainda demoraria uns quarenta minutos, eu topei o pacto.
- Mas tem que ser numa encruzilhada – acrescentou o Gato-Preto. Ele pediu um tempinho para pesquisar no Google-Maps a encruzilhada mais próxima. Não demorou muito e ele me deu o endereço. Entrei no carro e fui, feliz da vida, pensando em que eu iria pedir. Levava o celular comigo no caso de acontecer algum desencontro.
Cheguei ao local e esperei uns seis minutos – não sei por que o Tição tem obsessão por este número – e um rapaz de cabelos ondulados, usando calça colorida verde do tipo Mamãe-Tô-Na-Área e uma camisa branca com gola em V apareceu vindo na minha direção. Minha espinha arrepiou, mas aquele que eu pensava ser o Mofento passou direto. Era apenas mais um clone do Fuckyou – é assim que se escreve o nome do filho do Fabio Jr.? O Porco-Sujo vinha logo atrás, andando num gingado estranho, arrastando o rabo pelo chão e dividindo minha vida com um risco no asfalto em antes e depois.
- Dammmy Urgo? – ele perguntou, em mil idiomas. Ou seja, mil vezes do mesmo jeito, pois nome próprio não se traduz. Que Debo metido.
- O próprio – eu respondi, sem conseguir tirar os olhos de seu cabelo estilo Justin Bieber. Na verdade, eu já estava em dúvida: talvez o Fuckyou que já tinha virado a esquina é que era o verdadeiro Tranca-Rua.
- Já pensou no que quer? – o Excomungado perguntou em não sei mais quantos idiomas, e eu percebi que aquela conversa poderia durar toda minha eternidade se eu não tomasse uma providência. Falei:
- Olha, dá pra falar só em português mesmo? Eu já perdi o Horário Eleitoral, daqui a pouco, perco até a Ana Maria Praga.
- Tá bom. Já pensou no que quer?
- Não exatamente.
- Como assim?
- É que se eu vou perder minha alma pra você, tem que ser uma coisa que realmente valha a pena.
- Com certeza.
- E eu sou uma pessoa muito preocupada com a humanidade, ecologia, e essas coisas todas.
- Tá.
- Então, eu queria perguntar: posso vender minha alma por uma boa ação mundial?
- Pode. A alma é sua o problema é seu.
- Então, eu queria umas sugestões.
- Como assim?
- Olha, se você sabe falar esses idiomas todos, é sinal de que conhece o mundo todo. Você deve saber do que o mundo precisa, os anseios da humanidade, suas aspirações, seus desejos mais discretos. Que tal eu pedir para acabar com as guerras atuais? O que você acha?
- Veja bem… A idéia até que é boa… Mas se eu acabar com todas as guerras atuais, como a tecnologia vai se desenvolver, ainda que seja guerra-santa, quente, morna ou fria, como diria o Renato Russo? Além disso, se eu acabar com as guerras atuais agora, daqui a cinco minutos uma outra guerra começa num outro ponto do mundo, seja por que roubaram um pedaço de terra, um sabonete ou um balde cheio de água. Parodiando Nelson Rodrigues, toda humanidade é burra – o Diacho tinha um conhecimento enciclopédico bastante interessante...
- É. Pensando bem, você tem razão… E se eu pedir a felicidade para todos?
- O que é dar felicidade para todos? Dar dinheiro infinito pra todo mundo? Aumentar os seios das mulheres sem cirurgia? Você vai causar mais problema que solução. A felicidade é relativa. Se você ganhar na Mega-Sena hoje talvez não seja tão feliz quanto o cara que tá pegando a Ana Paula Arósio. Tem gente feliz até na Venezuela. Veja o Horário Eleitoral o quanto de gente está sorrindo. O Fuckyou que passou por aqui agora, pouco antes de mim. Ele se acha o próprio irmão da Cléo Pires, cara, da Cléo!! Não tem onde cair morto, a camisa dele é comprada no Feira Shopping e o cara está felicíssimo da vida achando que está abafando!! – para um Rabo-de-Seta, o cara era até inteligente – Você vai ter que pensar em uma coisa melhor. O pesso gosta muito de fazer pacto comigo pra tocar bem um instrumento: violãi, viola, saxofone? Por que você não pede para ser um exímio tocador de oboé na Orquestra Filarmônica de São Paulo?
- É… mas eu não quero o bem só para mim. Eu quero o bem para todos: meus pais, irmãos, vizinhos, primos, amigos do meu primo, o padeiro, o leiteiro, o contrabandista, o maconheiro, o cara do outro lado do mundo que eu não conheço. Até mesmo para os argentinos – o Tentador já estava ficando emocionado. Ou impaciente. Não sei direito… – Quero ser lembrado como o homem que mudou a história do mundo, que perpetuou a bondade que…
- Anda logo.
- Tá… Deixa eu pensar – e eu pensava, pensava, pensava, sem chegar a lugar algum. Na verdade, já estava pensando que esse negócio de vender a alma não era assim uma coisa tão boa. Envolvia muita responsabilidade. Enquanto isso, o Mofino estava já escorado num muro, com o rabo na mão, balançando pra lá e pra cá completamente entediado, impaciente. De repente, um carro surgiu, devagar. O som alto tocava uma música cujos “versos” diziam assim:
Te dei o sol, te dei o mar
Pra ganhar seu coração
Você é raio de saudade
Meteoro da paixão
Explosão de sentimentos
Que eu não pude acreditar
Ah! Como é bom poder te amar

O Temba fez uma cara de nojo, revirou os olhos e quase vomitou as últimas almas que havia engolido. Sem que ele percebesse, havia, naquele exato momento, solucionado meu problema.
- Já sei, Indivíduo.
- Graças a Deus você se decidiu. Fala, moleque!
- Eu posso trocar minha alma?
- Como assim? – esse “como assim” me irrita tanto…
- Quero trocar minha alma. Ouviu essa música que estava tocando? É de um cara chamado Luan Santana. Sucesso absoluto. Se Deus é brasileiro, deve ser surdo, ou, então, tá com algum problema em casa. Eu quero trocar minha alma com a do Luan Santana. Minha alma vai pra ele, a alma dele vem pra mim.
- E então, você faz sucesso no lugar dele! Garoto esperto!
- Deixa de ser Besta! Se eu trocar minha alma com a dele, quando eu morrer a alma dele é que vai queimar no Inferno, não a minha. Ao mesmo tempo, a humanidade vai agradecer por eu tirar de circulação essa desgraça pelada.
- Cara, tu não é burro não…
- Fiz até o primeiro período de Arquivologia… Então, pode ser?
- Pode, você é quem manda.
Fez uns movimentos estranhos com as mãos, disse umas palavras esquisitas em um milhão de idiomas, de trás pra frente, de frente pra trás. Ventou bastante naquele momento, os ventos vindo de todos os lados. De repente, eu senti um fogo frio descendo e um gelo quente subindo dentro de mim que depois se espalhou por todo o meu corpo. No minuto seguinte, eu estava vesgo, não conseguia enxergar nada direito. Ser mártir é foda!
- Pronto. Está feito. Agora, eu preciso ir para fazer mais uns pactos por aí…capeta
- Não preciso assinar nada?
- Não. Eu gravei tudo com meu celular. Depois te mando o vídeo por email – respondeu-me o Pedro-Botelho me dando as costas e sacudindo o rabo no ar.
- Espera aí!! – eu pedi, e ele se virou. Perguntou o que eu queria, com certo fogo nos olhos, e eu respondi: – Quando eu era menino, eu vi um filme no cinema de uma garotinha que virava a cabeça toda e não quebrava o pescoço. Achei bacana pra cacete! Dá pra fazer isso para eu ver? – O Diogo não só virou a cabeça todinha, 360 graus, como, em seguida, lambeu os próprios cotovelos, ambos, ao mesmo tempo. Depois, se desfez num redemoinho e eu nunca mais o vi…
Mas sei que o verei novamente, muito em breve, ou, melhor dizendo, o vesgo que habita em mim...
Esse nosso encontro deu-se na última sexta-feira treze, e sinto que é hora de causar o bem à humanidade e livrar-me de um tormento próprio. Desde meu encontro com o Asmodeu, sei todas as músicas do Luan Santana de cor e salteado, em todas as línguas, e fico torcendo para ele anunciar um show na minha cidade. Em suas apresentações na TV, fico hipnotizado, e até o estou seguindo no Twitter. Durmo e acordo com esse merda na cabeça!! Tentei pensar em outras músicas, tomar banho gelado, overdose de Tylenol. Coloquei até um CD do Wando no último volume, mas o máximo que consegui foi um vizinho reclamão que só gosta de axé por sofrer de limitação alfabética. Nada adiantou. É preciso, definitivamente, salvar a humanidade, dar-lhe o rumo que lhe foi tirado, recolocá-la nos trilhos, tapar o buraco da camada de Ozônio e acabar com o aquecimento global.
Acabo de chegar do supermercado. Trouxe um quilo de veneno do tipo chumbinho e estou devorando-o colherada por colherada, com comprimidos de Tylenol misturados pra não doer muito. Agora, a alma deste desgraçado vai queimar no inferno, ah! se não vai!!
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

TODA A CURA PARA TODO O MAL II

A primeira vez em que o Tylenol foi utilizado foi há muito tempo atrás, numa galáxia distante, mais exatamente depois que Darth Vader cortou a mão de Luke “eu sou seu pai” Skywalker. O pirralho sentiu tanta dor que entornou um frasco inteiro goela abaixo. Por aqui, depois que Deus construiu o mundo em 6 dias, tomou Tylenol para descansar. Obviamente, isso não consta na Bíblia tal qual a conhecemos, mas certamente encontra-se em um livro apócrifo esquecido em algum porão do Vaticano. Posteriormente, quando Moisés, autor dos cinco primeiros livros do Velho Testamento, conduzia seu povo até a Terra Prometida, Deus fez chover Tylenol que, naquela época, ainda se chamava maná.

Muitos séculos depois, Napoleão recusava-se a tomar o medicamente pensando que algum inimigo pudesse envenená-lo. Por conta de sua resistência, o pobre coitado viveu a vida inteira com a mão no estômago, sentindo terríveis dores. Hitler também não tomava Tylenol e tornou-se amargurado, fazendo o que vocês sabem o que ele fez. Por sua vez, Albert Einstein tomou Tylenol em excesso e, até hoje, parte de seu cérebro permanece guardada em uma solução feita à base de Tylenol para que sua consciência, ainda que inconsciente, permaneça viva. Antes disso, porém, Newton formulou a lei da gravidade ao tentar alcançar um frasco de Tylenol sobre um armário de cozinha. O frasco caiu em sua cabeça e ele percebeu que tudo que está no alto tende a descer. Até aquele momento, as coisas permaneciam flutuando no ar.

Maria Antonieta, antes que tivesse sua cabeça decepada na guilhotina, tomou algumas gotas de Tylenol para sentir menos dor. Não se sabe se surtiu efeito. Décadas atrás, no auge da beatlemania, um grave erro pode ter sido a razão para a separação do grupo: A capa de Sgt. Peppers, entre apesar de trazer a imagem de figuras antológicas como Bob Dylan, Allan Poe, Lewis Carroll, Marlon Brando, Aleister Crowley, dentre outros, não trazia a imagem de um frasco de Tylenol. Resultado: anos mais tarde, Lennon foi assassinado, George Harrison morreu de câncer, Ringo Star ainda não sabe tocar bateria e Paul Macartney morreu em algum momento da história, sendo substituído por um sósia. Ah! Luan Santana também não estava na capa de Sgt. Peppers, talvez, por isso, seja vesgo.

Nos anos 80, a fórmula do Tylenol teria sido aperfeiçoada e, hoje, além de paracetamol, o remédio seria composto de lágrimas de Chuck Norris. Essa história não é muito confiável, uma vez que, é sabido por todos, Chuck Norris não chora, nunca. Apesar de todo o sucesso histórico do medicamento, Rubens Barrichelo nunca tomou Tylenol. Aliás, Rubens Barrichelo nunca tomou nada, nem vergonha na cara. Lula é outro. Sequer sabe o que é Tylenol, aliás, Lula não sabe de nada, nunca. Ainda assim, existe um projeto em andamento, já em fase avançada, para substituir todos os componentes da cesta básica por uma garrafa do tipo pet de 2 litros de Tylenol, e Dilma prometeu que, se ganhar a eleição, vai criar o Bolsa Tylenol, que dará direito a toda família de baixa renda – entendendo-se como baixa renda as famílias que recebem menos de 10 salários mínimos mensais – um frasco de Tylenol por dia. Toda a cura para todo o mal.

Nos últimos meses, o Tylenol tornou-se destaque na imprensa internacional. Colocado dentro do aquário ao lado de uma caixa de aspirina, o Polvo Paul escolheu o primeiro. Antes disso, Vanusa apareceu atropelando o hino nacional – não sei por que isso virou notícia se todo jogador de futebol atropela o hino nacional – depois de ter tomado Tylenol em excesso. Ao largar o Tylenol e imaginar ter alcançado a cura, houve um revertério: 3 semanas atrás a mesma Vanusa apareceu atropelando outra música – que devia mesmo ser atropelada de tão brega que era – e confundindo as letras de canções distintas. Mais surpreendente ainda foi a recente declaração de Luan Santana, que afirma estar utilizando Tylenol como colírio para curar seu estrabismo. Infelizmente, pesquisas recentes da Universidade de Harvard têm demonstrado que a vesguice deste “cantor” não tem cura, mas é possível fazê-lo calar a boca enfiando-lhe pela goela abaixo dois frascos de Tylenol. O frasco, não o remédio.

Nesta minha busca pela verdade, descobriu outros usos para o Tylenol:

Espinhela caída

Uma colher de sopa por dia.

Disfunção Erétil

Aplicar no local meia hora antes do uso da ferramenta.

Calvície

Um frasco por dia no couro cabeludo.

Frieira

Uma gota diária entre cada um dos dedos dos pés.

Miopia

Mil torneiras de Tylenol no olhos. Lembre-se que o estrabismo do “cantor” Luan Santana não tem cura.

Frigidez Feminina

Uma carteira cheia de notas de 100,00. O Tylenol não tem aplicação neste caso e, portanto, a a frigidez teminina não tem cura. Aliás, as doenças que não podem ser curadas por Tylenol são conhecidas como incuráveis.

Vício em Drogas

Tylenol na veia ou, então, mói-se alguns comprimidos de Tylenol e cheira-se o pozinho maneiro.

Espinha

Uma gota em cada erupção vulcânica.

Caspa

Meio frasco por dia no couro cabeludo durante uma semana. Mas, cuidado, o uso em excesso, neste caso, poderá causar crescimento de cabelo.

Peido

Incurável.

Soluço

Uma comprimido de Tylenol equilibrado sobre a testa por quinze minutos seguido de um susto do tipo: vou comprar pra você um CD do Luan Santana.

Suicídio

Tylenol todo dia pela vida toda.

Surdez

Tylenol no ouvido.

Gripe

Não se aplica. Está entre as doenças incuráveis.

Caxumba

Esperar descer para o saco e aplicar Tylenol no local. Entretanto, esta aplicação poderá causar priapismo e fazer com que o usuário comece a agir como o José Mayer.

Câncer de Próstata

Tylenol em comprimidos como supositório
Numbskull (front view)

Há, também, algumas curiosidades interessantes – se não fossem curiosidades, não seriam interessantes, e vice-versa: um pedaço de bife deixado dentro de um recipiente cheio de Tylenol por 24 horas é capaz de fazer o boi ressuscitar; 100ml de Tylenol misturados à gasolina de qualquer automóvel aumentam em 12,64% a eficiência do motor; Tylenol misturado a Omo deixa suas roupas mais brancas, inclusive as roupas vermelhas; o presidente Ahmadinejad quer enriquecer uranio para criar um medicamento mais poderoso que o Tylenol; José Mayer, quando é contratado para uma novela, exige que em seu camarim haja sempre 69 frascos de Tylenol disponíveis para seu deleite; o poema “Num monumento à Aspirina”, de João Cabral de Melo Neto, deveria se chamar “Num monumento ao Tylenol”, mas a Bayer ofereceu uma grana maior; o goleiro Bruno come Macarrão do molho de Tylenol; há registros de um frasco de Tylenol voando sobre as pirâmides egípcias, brilhante feito um disco voador; Michael Jackson bebia Tylenol em copo de requeijão, etc, etc, etc.

Eu ficaria aqui por uma eternidade, talvez duas, enumerando os milagres deste medicamento, contribuindo para o bem da humanidade, fazendo com que cada um dos meus poucos leitores entendam que há, sim, um elixir da longa vida mas, durante este tempo em que estou digitando, meus dedos começaram a doer. Vou tomar Tylenol.

TODA A CURA PARA TODO O MAL

Na quarta-feira da última semana, minha filha mais nova acordou sentindo-se, reclamando de dor de barriga, de dor de cabeça, de dor de sentir dor. Ela estava um pouco quente, febre mínima, e preferimos, eu e minha esposa, amiga de todas as horas, que ela não fosse à escola e a deixamos dormindo em casa, velando seu sono como se pudéssemos protegê-la dos pesadelos que eram nossos. Quando acordou, ao invés de sentir-se melhor, estava ainda mais indisposta, triz, tez pálida, e a febre, que durante suas breves horas de sono vespertino parecia estar em queda, encontrava-se bem acima do normal. Insistentemente lhe dávamos, garganta abaixo, eu e minha esposa, xarope disso e daquilo, beberagens estranhos que combinavam plantas com mel quase intragáveis. Não alcançamos resultado. Insistentemente minha esposa forçava-me a levá-la ao médico, a um posto de saúde, a um centro de macumba, a um shopping, qualquer coisa para que curasse um mal que já era mais nosso do que dela. Antes tivesse eu aceito pois, derrotado, justamente no momento do programa de TV que mais me interessava – toda quarta tem desfile de lingerie no programa da Luciana Gimenez – fui convencido a levá-la ao Posto de Atendimento de nosso convênio médico. Foram quase duas horas de espera enquanto eu perdia as belas mulheres sem estrias as quais, certamente, eu só teria direito em sonhos. Teria mesmo algum candidato prometido aumentar o número de caracteres no tiwtter? Não saberei. Talvez eu jamais saiba.
Na sala de espera, dezenas de outras crianças gripadas, agonizantes. Das narinas de uma delas um catarro verde subia e outro azul descia num malabarismo que nada devia aos melhores artistas do Cirque de Soleil. Era como se estivéssemos no purgatório e a atendente escolhia quem descia ao inferno e quem subia ao céu. Os que desciam, entravam por um corredor e não mais retornavam. Ninguém. Nem crianças nem pais. Os que sbiam ao céu retornavam semicontentes, semicurados ou semienganados. Quando entramos, eu, minha esposa e nossa pobre criança abatida, fomos atendidos por um senhor muito atencioso que mal levantou os olhos de um papel quase em branco. Quase por que havia alguns arabescos, números, contas, anotações dispersas. Na verdade, acho que vi um pênis desenhado. Ele fez uma série de perguntas à minha esposa, como se minha figura ali não existisse, sobre a saúde da pequena. Cada pergunta recebia uma resposta dramática, exagerada. Se fosse outra pessoa que estivesse ali em meu lugar, já teria colocado a pobre coitada da menina nas costas e levado para a funerária mais próxima ou, no mínimo, levantaria-se, deixaria a garota ali e diria: Pode ficar com ela. Eu não quero mais.
Abra a boca. Diga ah! – eu coloquei o “aga” aqui, mas minha filha não o pronunciou e você não o leu. Coloca a língua pra fora. Põe a língua pra dentro. Olha pra cima. Olha pra baixo. Olha para os lados. Levanta os braços. Consegue ver essa caneta aqui? Tenta morder seu cotovelo. Vamos ver sua temperatura. É. Está com febre. Mas não é nada demais, não. Toma isso.
No receituário que ele nos entregou, além de seu nome e sua identificação em garatujas, uma única palavra, mais do que escrita, desenhada, aperfeiçoada com o tempo feito um trabalho dos maiores mestres da arte italiana:
tylenol
O Tylenol está entre os medicamentos mais vendidos no Brasil e no mundo, atrás, entre outros, daqueles para disfunção erétil. Ou seja, quando o negócio não sobe, o Tylenol dá um jeito, e ajudar a subir o caixa da Johnson e Johnson no Brasil. Se o médico acima houvesse sugerido abrir – ou fechar? nunca sei direito… – o chakra da minha filha, mesmo ela sendo menor de idade, eu entenderia. Mas indicar Tylenol assim, de cara, sem pedir exame, identidade, cpf ou certidão de antecedentes criminais? É de mais. Fomos dispensados por um gesto rápido, feito os imperadores que, com o polegar direito, determinavam a morte do gladiador derrotado. Saímos. Ganhamos o céu, mas eu perdi a Luciana Gimenez.
Então, passamos em uma farmácia da cidade, compramos o tal remédio – o original, não o genérico, exigência de minha nobre companheira – e fomos para casa. Cansada, a primeira coisa que minha esposa fez foi tomar um banho, não sem antes pedir-me que eu desse algumas gotinhas do licor para minha filha. Esperto que sou – cursei até o primeiro semestre de arquivologia – ao invés de dar Tylenol, dei algumas gotas de água para menina em uma pequena colher. Pior que isso: pior do que isso, minha vileza desumana fez com que eu jogasse todo o remédio fora e substituisse a beberagem por água. Água pura, sem açúcar nem nada, apenas filtrada – se bem que o filtro estava já vencido. De madrugada, minha esposa acordou par a medir a temperatura da menina, e levou-me junto – vai que alguma coisa saisse errada… Fiquei ali, esperando o termômetro apitar e… milagre!!! Por um momento, era como se minha esposa estivesse vendo à sua frente uma sarça ardente mas que não queimava, ouvindo a voz trovejante de Deus dizendo-lhe: Vai, varoa – era assim que Deus falava nos primórdios – conta para o povo que Tylenol representa toda cura para todo o mal. E mesmo com o milagre à vista, minha esposa deu mais uma colherada da bebida mágica e foi se deitar, puxando-me pelo braço, feliz da vida para seu sono tranquilo e minha conquista silenciosa. No dia seguinte, a menina acordou pulando, cantando, dançando. E eu ria, ria, ria.
O dia inteiro minha esposa dopou a pequena com aquela substância inútil e, a cada vez, pensava que ela estava melhor. Se ela ao menos provasse aquelas gotas que colocava em uma colher perceberia o quanto fazia papel de idiota. Aliás, se minha filha estivesse mesmo ingerindo Tylenol durante todo aquele dia, não estaria mais de pé. Estaria morta, enterrada. No mínimo, em coma. Minha espos ainda fez questão de chamar a vizinhança e contar o milagre que havia presenciado, dizendo que jamais deixaria faltar Tylenol em casa. Mas eu, eu já estava irritado, e dediquei-me, então, a partir daquele dia, a pesquisar tudo sobre esta bebida mágica, este verdadeiro manjar dos deuses.
CONTINUA…

domingo, 15 de agosto de 2010

ATAZAGORAFOBIA

Aproveitando a sexta-feira 13 passada, quando surgem sempre os galeofobia de plantão, parascavedecatriafobia ou  parasquavedequatriafobia ou, um pouco mais simples, frigatriscaidecafobia é o nome que se dá ao medo irracional da sexta-feira 13, medo este ligado diretamente a triscaidecafobia, que é o pavor patológico do número 13. Aliás, nos Estados Unidos da vida, muitos edifícios não possuem o 13º. andar apenas por causa deste número, o que pode levar a hipsofobia, pois passando do 12º. ao 14º. andar tem-se a falsa impressão de que o prédio é mais alto. Cultura quase inútil, pois é difícil decorar quaisquer dos termos supracitados, tão enormes que apavoram, e o termo que define este medo de palavras grandes é, justamente, hipopotomonstrosesquipedaliofobia, que por si só já é um pavor. Mas, para não dizer que não falei das flores, antofobia é o medo irracional desta estrutura reprodutiva das angiospermas que, quando completa, é constituída por cálice, corola, androceu (estames) e gineceu (pistilos) e, quando incompleta, deve apresentar, no mínimo, um estame ou um pistilo, e se o medo é das plantas em geral, o termo é botanofobia. Pronto. Escrevi um post sério, cultural, que vai mudar a vida de muita gente ou que não vai levar ninguém a lugar algum, principalmente os ambulófobos. Posso soltar foguetes. Pena que minha filha mais nova sofre de astrapofobia ou ceraunofobia ou, no mínimo, encontra-se em um estágio inicial de fonofobia combinada com anablefobia, o que não me torna uiofóbico.
E se foguete é sinônimo de festa, não comam pipocas os arachibutirofobia, que não têm nada a ver com os aracnofóbicos. Melhor voltarem pra suas casas sãos e salvos e de lá não saiam mais, pois o mundo é feito de medos, o mundo é feito de fobias, e sempre foram as fobias que moveram o mundo. Se não tivéssemos medo do escuro não saberíamos valorizar a luz. Sim, isso mesmo, fique em casa, tranque o portão, feche as janelas, apague a luz. A não ser que você sofra de domatofobia.

E se quiser saber mais sobre o nome daquele medo de ter medo de ter medo ou de qualquer outro medo que você sente sem saber por que nem por quem, acesse, sem medo:

http://www.psicologia.org.br/internacional/gloss.htm#toc

Ou não. De repente, você não precisa saber que é um epistemofóbico.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA 13

Sexta-feira 13 de agosto. Acordei por volta de 1 hora da madrugada para ver a tal chuva de meteoros. O céu estava nublado, e além de eu não ver coisa alguma, um pombo me atingiu em cheio na cabeça. Pombos noturnos. Vá lá saber por que ele não estava dormindo naquela hora. Vá lá saber por que eu não estava dormindo naquela hora... Pensando bem, pode ter sido um morcego. Não, é melhor não pensar bem...
Volto pra cama, não sem antes tomar um banho frio. A resistência queimou justamente comigo, justamente naquele dia, justamente naquela hora. Demoro a pegar no sono pois a Dona Maria ronca feito uma porca, além de expelir outros sons mal cheirosos que impregnam o quarto. Vergonhosamente cito que ela usava grandes rolinhos no cabelo. Ao menos, tirou do rosto a horrível máscara de abacate que colocou depois da novela das oito que começa às nove.
Volto a acordar às sete e seis da manhã que, para os que são místicos, equivale a 6 horas e 66 minutos, o número da besta. Eu sou mesmo uma besta!! Fui acordado pelo meu próprio relógio de pulso que, no dia anterior, havia atrasado e eu tentara ajustar sem ler o manual. No mínimo, mexi no que no que não devia. Não consigo pegar no sono. Dona Maria não deixa. Quando os bebês dormem são como anjos, quando é a Dona Maria parece o próprio capeta. Levanto-me a contra gosto. Como dizem por aí, quem sai da cama é pra se molhar, e decidi sair pra comprar pão.
Abro o portão e, na minha frente, adivinhem? Um gato preto. Mas não era um gato preto qualquer, era um senhor gato preto, enorme, quase um puma de tão grande e obeso. Tomara que tenha comido o pombo noturno. Ou teria sido um morcego? Ao invés de cruzar meu caminho, de se espantar com minha figura apoplética, ele fica ali, me encarando, como se dissesse: devora-me ou te decifro. Não que eu seja supersticioso, mas é que, com a noite que eu tive, não se pode brincar, então, ao invés de ir na direção do gato, dou dois ou três passos para a direita, quando ele se levanta e faz o mesmo. De pé, pelos eriçados, parecia ainda maior, e eu, com pouco esforço, poderia passar por baixo dele. A situação me faz rir por dentro: passar em baixo de um gato preto, ver uma escada de 4 degraus atravessando meu caminho, temperar churrasco com açúcar refinado, dependurar uma ferradura na frente da janela, usar um pé de coelho em formato de trevo, deixar um rodo embaixo do sofá. Se fizéssemos as coisas desse jeito a sexta-feira 13 poderia se tornar um dia de sorte ou apenas adiaríamos a desgraça para os dias seguintes, talvez, o sábado 14? Ou uma segunda 16. Segundas-feiras são uma desgraça.
De súbito, o gato parece mudar de ideia e, feito o leão da montanha dos meus desenhos infantis, sai rápido pela direita. Satisfeito, inicio meu caminho planejado, fixo, dos meus últimos cinco anos. Idiota que sou, deveria ter prestado atenção no súbito movimento do bichano e entenderia seu porquê. Ao longe, mas não tão longe, um cão, muito maior que o gato, muito maior que um cão comum, vinha correndo em nossa – minha, pois o felino já se escafedera por algum portão vizinho – direção, e parecia sedento, sabe-se lá de água, sabe-se lá de sangue. Como eu não desejava saber exatamente qual era esta sede, principalmente por não trazer comigo um copo d’água, dou meia volta, quase tão rápido quanto o leão da montanha, entro em minha casa e fecho o portão de grade. A sede era de sangue, pois o cão ficou ali, ladrando, furioso, espumando pela boca e não iria desistir de seu desjejum matinal assim tão cedo. O pão vai ter que ficar para mais tarde. Contentemo-nos com alguns biscoitos murchos, bolachas endurecidas, roscas bolorentas.
Mas, antes de entrar em casa, no caminho entre o portão e a porta da sala, sou atingido novamente por um obus columbiforme, ou seja, outra cagada de pombo. Ou seria um morcego madrugador? Vou para o banho gelado, volto para a cama, os sons, o mal cheiro, os rolinhos no cabelo, o cão ladrando do lado de fora, o arrulho do pombo no telhado feito o corpo de Poe repetingo “never more”. Só folta o meteoro que não eu não vi cair sobre minha cama e abrir uma cratera por onde eu me enfiaria e jamais retornaria à superfície. Para um dia que prometia, não era ideia de tão má.
A sexta-feira 13 mal começou e eu aguardo pelo sábado 14. Ainda bem que não passei embaixo de um gato preto.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VOTE CONSCIENTE

A propaganda eleitoral gratuita na TV e Rádio tem início em 17 de agosto. Não vejo a hora de assistir às patavinas que já estão divertidas. Os candidatos se apresentam fazendo questão de informar a seus eleitores que são a favor da saúde, de mais emprego, um salário melhor, menos violência, mais comida na mesa dos pobres, etc, etc, etc. Beleza. Será que existe alguém que seja contra alguma dessas coisas? Será que algum candidato vai aparecer e dizer: sou a favor da tortura, sou contra o bem estar do menor ou defendo a castração de padres pedófilos?? E ainda fazem declarações de cunho duvidoso: a senhora Dilma Roussef, que tem como cabeleireiro o mesmo cara que faz aquelas merdas no cabelo da Ana Maria Praga disse que, se for eleita, “as meninas terão os mesmos sonhos dos meninos”. Qual seria esse sonho? Ter um pênis maior?? Além disso, ameaçam criar mais ministérios, mesmo o nobre José Serra, do PSDB, que sempre criticou, com toda razão, o exagerado número de ministérios do Governo Molusco, em que se inclui o Ministério da Pesca e Aquicultura, que deve ser justamente para cuidar de si próprio, e o, em breve, Ministério da Olimpíada, por que a roubalheira tem que ser organizada e é preciso uma contabilidade para controlar todos os vazamentos.
Mas, como nossos novos candidatos não nos apresentam propostas concretas, fiz uma lista de promessas, bandeiras ideológicas que podem ser defendidas por esses que aí estão, atravancando nosso caminho, e que podem, sim!, nos ser úteis, tais como: aumento do número de caracteres dos posts do twitter, de 140 para 144, progressivamente (para não gerar inflação), até o final do governo; criação de aeroportos interestelares nas principais capitais do Brasil; inclusão na cesta-básica de um pacote de chocolates M&Ms; criação do ministério da ‘Patafísica (vai lá, procura na wikipedia o que é ‘Patafísica, eu espero...); substituir o Hino Nacional por uma música, qualquer uma, do gênero axé para ficar mais fácil para os jogadores da seleção cantarem; trocar as roupas do Papai Noel, quena verdade é uma propaganda da Coca Cola, por uma que lembre o Guaraná Dolly (Doóóólly, Dolly Guaraná, Doóólly).
Bote fé. A campanha, assim, será bem mais útil. Não deixe qualquer candidato passar a perna em você.


domingo, 8 de agosto de 2010

EXORTAÇÃO

Justin Bieber vai lançar sua biografia no próximo 02 de outubro. Considerando que ele não se lembra de nada antes dos 3 anos de idade - o que já é um prodígio, pois eu não me lembro de nada antes dos meus 32 dentes - serão contados 13 anos de sua atribulada vida, certamente sem sexo, nem drogas, nem rock´n roll, por que ele não faz a mínima idéia do que isso significa. Se bem que sexo... ah! deixa pra lá. Bem, certamente terá mais páginas que o livro que estou escrevendo, com as melhores entrevistas de jogadores de futebol dos últimos cem anos. Considerando que Barack Obam tem dois livros de memórias publicados quando ainda era um reles pretinho básico, esse jovem mancebo tem lá seus direitos.
Mas, vamos, gente, todos juntos numa só corrente de fé. Se você é Melita (de pouca fé), faça como eu, funde uma Igreja, crie um Deus, leia o Alcorão. Todos precisamos contribuir neste momento histórico. Oremos e peçamos que trata-se apenas de mais um caso de velhice precoce (Síndrome de Werner, pra quem quer que este blog seja mais culto...) e que, em breve, possamos, nós, seus mais ardorosos fãs, escrever seu epitáfio: DANCEI!!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

VIDA ALHEIA

Primeiro foi o Gianechini que largou o namorado e pediu o apê de volta; depois, a Ana Maria Braga mandou o marido passear enquanto dançava no programa do Faustão; há poucos dias, Cláudia Raia trocou o Celulari por um smartphone mais moderno, entendendo-se por moderno, “muito mais novo” – é só esperar pra ver... – agora, pulula por aí o boato de que Michele e Barack Obama estariam em crise conjugal. A julgar pelo que se vê por aí, e apesar dos vestidos chiques que a primeira-dama norte americana usa nos eventos sociais, o que ela gosta mesmo é de um pretinho básico, coisa que o Obama deixou de ser já há algum tempo. O mais curioso é a importância que dão a estes fatos: uma vizinha minha se separou e só houve comentários na rua: não saiu no Diário local, não foi notícia na televisão, nem ocupou os dez mais dos trending topics do twiter. Acho que nem o Padre da paróquia ficou sabendo... Fico imaginando quando anunciarem a separação entre o casal do momento, Vítor e Léo. A bolsa vai desabar, o dólar vai subir e o Papa vai excomungá-los. Teste você mesmo: tenha uma boa idéia, uma idéia útil de verdade, dessas que não têm entrada USB nem saída HDMI. Alguém vai ficar sabendo, alguém vai comentar? Quantos seguidores você tem no twitter? Honestos, meia dúzia, fakes, dezenas, centenas, milhares. Essa é a vida alheia, muito mais interessante do que a sua.
Ah!! E acabei de saber enquanto estou escrevendo este post. Mais um casal se desfez, desrespeitando a máxima bíblica de "amai-vos uns sobre os outros": corre à boca pequena que o Bruno parou de comer Macarrão.

06 DE AGOSTO - DIA DA PAZ

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

(1) COPROMANCIA

"Não obstante minha reação inicial de repugnância, eu observava minhas fezes diariamente. Notei que o formato, a quantidade, a cor e o odor eram variáveis. Certa noite, tentei lembrar as várias formas que minhas fezes adquiriam depois de expelidas, mas não tive sucesso. Levantei, fui ao escritório, mas não consegui fazer desenhos precisos, a estrutura das fezes costuma ser fragmentária e multifacetada. Adquirem seu aspecto quando, devido a contrações rítmicas involuntárias dos músculos dos intestinos, o bolo alimentar passa do intestino delgado para o intestino grosso. Vários outros fatores também influem, como o tipo de alimento ingerido.
No dia seguinte comprei uma Polaroid. Com ela, fotografei diariamente as minhas fezes, usando um filme colorido. No fim de um mês, possuía um arquivo de sessenta e duas fotos -, meus intestinos funcionam no mínimo duas vezes por dia -, que foram colocadas num álbum. Além das fotografias de meus bolos fecais, passei a acrescentar informações sobre coloração. As cores das fotos nunca são precisas. As entradas eram diárias."

Trecho de Copromancia, de Rubem Fonseca, in Secreções, excreções e desatinos. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

AMY ADEGA

Estão dizendo que Amy Winehouse, que tem álcool até no nome, virá fazer alguns shows no Brasil, provavelmente no próximo ano. Como este é um blog avançado, antenado com a atualidade e que fez um pacto com os astros, inclusive Plutão, relegado à categoria de não-planeta - muito embora, para a agneda abaixo, tenhamos nos valido da copromancia(1) - vamos aqui prever sua passagem pelo país:
1 – Os shows serão no Rio e em São Paulo.
2 – No Rio, ela vai conhecer a estátua do Cristo  - se não estiver interditada para reforma - e uma escola de samba (provavelmente a Mangueira), onde vai arriscar alguns passos de uma dança estranha e quase medieval, que ela acha que se chama samba. Isso, se ela conseguir se manter em pé.
3 – Vai subir o morro para conhecer alguma favela.

4 – Em algum momento, vai achar que o Rio é a capital do Brasil – eu acho que é São Paulo.
5 – No show, provavelmente o Maracanã, vai aprender a dizer em bom português: Rui-io eo ti amu.
6 – No Rio, será assaltada. No meio da rua.
7 – Em São Paulo, mal sairá do Hotel, de onde pedirá um pozinho básico e deverá encomendar Santo D’aime diretamente da Amazônia - é mais puro. Também vai pedir um assessor seu para comprar uma peruca nova na 25 de março.
8 – Se sair do Hotel em São Paulo, vai conhecer algum time de futebol, provavelmente o Corinthiaans, e arriscar algumas embaixadinhas, isso se ela conseguir se manter em pé.
9  – Em São Paulo, será assaltada. Dentro do Hotel.
10 - Em algum momento da viagem, seja no Rio ou em São Paulo, vai ter um caso com alguém - homem ou mulher - que será imediatamente elevado à condição de estrela primeira grandeza, ainda que não saiba fazer nada. Ou seja, será um modelo.

Mas toda essa agenda atribuladíssima e multicultural, se é que pode se chamar de cultura fazer uma rápida passagem pelo país para ficar contando piadas de mal gosto lá fora, vai depender de algo crucial:

ELA SOBREVIVERÁ ATÉ LÁ?

Aguardemos os próximos capítulos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MARIDOPOT!!

Uma notícia na internet, hoje, tem me chamado a atenção: Hacker faz caixas eletrônicos 'cuspirem' dinheiro remotamente. Taí pra quem quiser ler. Mas a notícia me chama a atenção não por ser surpreendente, não por me causar medo, mas sim por ser uma besteira sem tamanho. O que há de tão fantástico neste ato se minha mulher faz isso todo dia? A diferença é que quem cospe dinheiro sou eu, e a diferença entre mim e um caixa eletrônico é que eu penso, logo, desisto. Na verdade, não é um mero cuspe, é um jorro de notas e moedas de reais, numa espécie de poço dos desejos às avessas. Ao menos, ela não chegou à globalização e não gasta nada em dólares ou euros, fica no cartão e no nosso real mesmo. Irreal é o meu salário que precisa dar conta de tudo. Aliás, qual dos fenômenos é mais surpreendente: o americano que faz o caixa eletrônico cuspir dinheiro, minha mulher que faz jorrar reais da minha carteira ou eu, que consigo multiplicar o que não tenho para dividir com quem gasta mais que os outros ¾ da família juntos?