Aqui, rasga-se, todo dia, indiscriminadamente, a Constituição Federal e ninguém diz nada, ninguém se espanta, mal se arqueiam as sobrancelhas. E quem faz isso são os que estão lá em cima. Passa-se por cima de leis, derruba-se pilares constuídos através da história, mata-se a alma do cidadão, desrespeita-se os direitos mais básicos de todos : alimento, moradia, saúde, educação. Vida.

Sagrado é apenas aquilo ditado por um deus, por um profeta, por um escolhido? Um texto que, bem ou mal, teve a participação da população, não pode ser considerado sagrado? Tem menos valor?
A quebra de sigilo fiscal é o assunto da moda. Meu sonho era trabalhar na Receita Federal. Ano passado, estudei o ano inteiro para tanto. Cheguei perto, mas não deu. Agora, não sei se devo continuar sonhando com isso. Daqui a algum tempo, ser chamado de Servidor da Receita Federal pode tornar-se um insulto e de insultos eu já estou farto. Tem tanta gente com o sigilo sendo quebrado – e o Serra tem tantos parentes… – que, daqui a poucas semanas, os repórteres anunciarão, com suas vozes taciturnas, profundas, abismáticas: Fulano continua com seu sigilo fiscal preservado. Ele é o último.3
Então, erguerão-se igrejas, cultos, filosofias em honra de um único intocado. Talvez este pobre coitado não tenha mesmo nenhum sigilo a ser quebrado por ganhar salário de fome, ou talvez seu nome tenha sido esquecido embaixo de algum dossiê mais importante, ao fundo de uma gaveta bolorenta. Nesses últimos tempo, ser desconhecido é o que há de melhor.
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